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Os efeitos da pandemia do coronavírus na educação

Este cenário trouxe ao centro do debate educacional a necessidade do uso das tecnologias educacionais para realização de atividades escolares num sistema remoto



Data da Publicação da Notícia : 13/07/2020 09:34 por Samba Sané

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A propagação em escala mundial do coronavírus impôs aos governos de praticamente todas as nações a tomada de medidas drásticas, no primeiro momento voltadas sobretudo aos sistemas de saúde, mas outros setores nomeadamente econômicos, sociais, políticos, assim como educacionais, também foram profundamente afetados.

No caso do setor educacional, este cenário sem precedentes exigiu rápida e inédita reação de políticos e gestores públicos de todos os países, que, de maneira quase universal, optaram pelo fechamento provisório de escolas públicas e particulares, na tentativa de atenuar a propagação do vírus. De acordo com a Unesco, até o fim de março, 165 países tinham fechado suas escolas, interrompendo as aulas presenciais de 1,5 bilhão de estudantes e mudando a rotina de 63 milhões de professores de educação básica.

Atualmente, são mais de 90% dos alunos impactados por essa medida, sendo que no Brasil, a suspensão das aulas presenciais já é realidade em todas as Unidades da Federação. Igualmente, ações emergenciais têm sido tomadas, nomeadamente, a transferência de aulas e outras atividades pedagógicas presenciais para formatos a distância, buscando diminuir os efeitos do distanciamento social no aprendizado dos alunos e manter, de certa forma, as escolas em atividade.

Este cenário trouxe ao centro do debate educacional a necessidade do uso das tecnologias educacionais para realização de atividades escolares num sistema remoto, considerado como medida emergencial. Para o efeito, governos estaduais e municipais foram obrigados a investir na aquisição de meios técnicos e tecnológicos e na preparação dos professores para o desenvolvimento de situações de aprendizagem remota, cujo uso ou manejo, para muitos, era até então desconhecido. Foi algo que ninguém estava preparado e todos precisaram se reinventar.

A partir de então, o grande desafio enfrentado pelo setor educacional no mundo todo tem a ver com esta imprevisibilidade numa área que tradicionalmente não tem uma cultura digital, do trabalho remoto ou da educação a distância em suas ações, sendo portanto novo e complexo, sobretudo para quem trabalha com educação básica, tendo em conta todas as condicionalidades inerentes ao uso destas ferramentas pelos envolvidos (escola, professores, alunos, pais e encarregados de educação).

No caso brasileiro, um outro desafio enfrentado tem a ver com a necessidade dos governantes tomarem medidas para que todos os alunos tenham acesso à internet, pois segundo a Pesquisa TIC Domicílio, realizada em 2018, no país, mais de 30% dos domicílios não têm sequer acesso à internet, sendo em geral das famílias mais desfavorecidas.

Para fazer frente à situação e garantir a manutenção da educação para todos, a Unesco elaborou uma lista de recomendações que devem ser consideradas pelas instituições educacionais públicas e privadas de todo o mundo em meio à pandemia:

  1. a) Que se preserve empregos e salários dos funcionários, destacando que "a crise não pode ser um pretexto para baixar os padrões e desmerecer direitos trabalhistas";
  2. b) Que se priorize a saúde e o bem-estar de professores e alunos, em meio ao estresse e à crescente exposição da população global ao coronavírus;
  3. c) Que se dê voz aos professores no processo de planejamento das respostas educacionais, além de oferecer-lhes treinamento adequado para lidar com as circunstâncias;
  4. d) Que se coloque a igualdade no centro dos debates. "Soluções tecnológicas que assegurem a continuidade do ensino frequentemente exacerbam as desigualdades", afirma documento da Força-Tarefa Internacional de Professores pela Educação, da Unesco. "Educação remota e virtual só são eficientes para professores, estudantes e famílias com eletricidade adequada, conexão à internet, computadores e tabletes, e espaço físico para trabalhar".

Lembrando que aqui no Brasil, na ausência de uma política nacional de enfrentamento por parte do governo federal, Estados e municípios se organizaram de forma diversa, em que, consequentemente, as respostas para a situação têm sido bem diferentes.

Na verdade, apesar de todos os esforços empregados nestas ações, tanto em escala nacional ou mundial, os sistemas de ensino têm se esbarrado nas suas fragilidades, tendo esta pandemia apenas evidenciado ainda mais as desigualdades, demonstrando o quanto ainda há por se fazer até que a educação se torne realmente um direito adquirido para todos, de todas as classes sociais e em todos os níveis de ensino.


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