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Câncer Infantojuvenil: a trajetória de Passo Fundo como um centro especializado

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), cerca de 12 mil crianças e adolescentes são diagnosticadas com câncer anualmente no Brasil



Data da Publicação da Notícia : 19/06/2020 09:55 por Caroline Silvestro/HSVP

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Centro Oncológico possui uma estrutura que busca despertar o lúdico aliado ao cuidado humanizado às crianças e adolescentes (Foto Ascom/HSVP)

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De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), cerca de 12 mil crianças e adolescentes são diagnosticadas com câncer anualmente no Brasil, o que representa uma média de 32 casos por dia e é considerada a primeira causa de morte por doença na população infantojuvenil. Porém, se estes pacientes forem atendidos em centros médicos especializados no tratamento da doença, a taxa de cura média é de 70%, comparável a países de primeiro mundo.

Foi diante da preocupação de oferecer a população da região norte, noroeste e região missioneira do Rio Grande do Sul esse atendimento especializado, que em 2009, o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo, assumiu a responsabilidade de ser referência no tratamento de crianças e adolescentes, abraçando a causa e buscando o que de melhor pode ser oferecido a estes pacientes desde então. “O tratamento do câncer infantojuvenil é complexo, os resultados nos centros especializados de países de alta renda são excelentes. No entanto, fazer oncologia pediátrica no Brasil é um desafio às pessoas que se propõem a esta causa, já que a política pública para diagnóstico e tratamento vem gerando, muito lentamente, as melhorias necessárias ao combate da doença e de suas repercussões”, relata o oncologista pediátrico Dr. Pablo Santiago, coordenador do Centro Oncológico Infantojuvenil do Hospital São Vicente, relatando a história da unidade. “Estávamos no ano de 2009, quando eu voltei ao hospital onde fiz minha formação médica, com o propósito de erguer um projeto multidisciplinar de tratamento e reabilitação de pacientes atingidos pela doença. A cura do câncer já se tornava fato e resultados a longo prazo já eram nítidos em diversos hospitais mundo a fora, mas faltava consolidar esses avanços na nossa realidade replicando de forma continuada a expertise, unificando o esforço de diversos profissionais envolvidos no assunto em um centro completo”.

Santigo conta que um dos primeiros professores com quem falou na época foi o Diretor Médico do Hospital, Dr. Rudah Jorge. Pediatra, Dr. Rudah, compartilhou com o recém especialista, as experiências profissionais de décadas passadas. “Contou-me como era difícil quando iniciou sua carreira dizer aos pais de uma criança diagnosticada com câncer, que pouco havia a ser feito ou que os meios para buscar a cura estavam distantes de Passo Fundo. Também relatou que, ao longo de sua história profissional, vira o avanço do tratamento em saúde fazer com que doenças consideradas terríveis verdadeiramente desaparecessem ou fossem transformadas em problemas menores. Relatou como a Medicina Pediátrica de Passo Fundo chegou ao status de conseguir enfrentar em igualdade de condições a desnutrição, a desidratação, as infecções, a prematuridade extrema, o trauma por acidentes e outros problemas ao longo das décadas e concordamos que chegara a hora de um esforço conjunto contra o câncer infanto-juvenil”, relembra o oncologista, que também conversou na época, com o vice-diretor médico, Júlio Stobbe que incentivou a criação do Centro.

Com um período de observações em grandes centros como Hospital da Criança Conceição e Hospital de Clínicas em Porto Alegre e por último, o Hospital Universitário de Santa Maria, Santiago conheceu o trabalho de pioneiros que haviam trazido as formas de tratamento das neoplasias infantis dos Estados Unidos e Europa para o Rio Grande do Sul. “Em Passo Fundo, a experiência cirúrgica, radioterápica e de uso de medicações quimioterápicas há muito estava consolidada quando o assunto era câncer de adultos, onde temos inúmeros colegas de alto gabarito e formação admirável. Por outro lado, dentre as dificuldades para acudir pequenos pacientes, estavam a falta de experiência das equipes com o assunto câncer infantojuvenil e a falta de adequação dos espaços físicos”, salienta Santiago, descrevendo o ambulatório que tinha algumas poltronas para quimioterapia numa pequena sala na oncologia dos adultos, com uma mesinha e quatro cadeirinhas, alguns papéis e lápis de cor naquele que era o ambiente para o tratamento ambulatorial das crianças. Ainda, relembra que no posto da Pediatria, onde internavam os pacientes em processo de diagnóstico e aqueles com efeitos colaterais do tratamento, havia quartos onde muitos pacientes internavam com outras crianças portadoras de problemas referentes a outras especialidades, o que dificultava o processo de treinamento e especialização de pessoal dentro de um hospital geral. “Ficou claro para mim, para a administração do Hospital e para a comunidade que era a hora de avançar”.

Um novo espaço

Com a constante busca por melhorias e para oferecer o cuidado especializado que os pacientes mereciam, o Hospital São Vicente de um grande passo, na trajetória da atenção ao câncer infantojuvenil, quando em junho 2016, inaugurou o ambulatório do Centro Oncológico Infantojuvenil. Voltado para o atendimento onde o paciente não necessita permanecer hospitalizado, o Centro foi construído e equipado a partir de uma ampla mobilização de iniciativas públicas, parcerias voluntárias e do setor privado. “Com esse passo importante, conseguimos partir de um atendimento inicial de 10 pacientes lá no ano de 2009 para o atendimento atual de dezenas de pacientes em tratamento ou em processo de reabilitação física, emocional e social. O ambiente é acolhedor, há ludicidade e entretenimento para oferecer qualidade de vida nos momentos em que as crianças estão em consulta ou em sessão de quimioterapia”, destaca o especialista, que junto com outras lideranças, buscou recursos e apoio para a construção do mesmo.

No espaço do Centro, além da presença de médicos especialistas, outras disciplinas juntaram-se na atenção aos pacientes e suas famílias, como, recepcionistas, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, farmacêuticos, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais e pedagogas, que se mobilizam todos os dias em torno de um assunto complexo que é o câncer infantojuvenil. “Hoje, uma criança com câncer de qualquer município da região pode ser rapidamente encaminhada através de um contato médico com o núcleo de regulação do Hospital São Vicente de Paulo (NIR) e receber atenção experiente desde o momento em que é admitida no setor de emergência pelos médicos de plantão. O aparato hospitalar está pronto para que esse paciente possa realizar os exames de diagnóstico, passar por avaliação de setores fundamentais para a resolução do caso como a cirurgia pediátrica, cirurgia oncológica, cirurgia ortopédica oncológica, cirurgia torácica, neurocirurgia, medicina intensiva e outros, para dar seguimento à terapia indicada”, explica.

Evolução constante

“Na medida em que avançamos, podemos atender a casos mais complexos. Buscar a cura quando possível e aliviar o sofrimento SEMPRE são os objetivos”, enaltece o coordenador do Centro, destacando a constante evolução, aprendizado e busca por melhores resultados das equipes. “Por mais que a terapia oncológica moderna ofereça grandes esperanças de cura, o tratamento do câncer infantil gera muito sofrimento à criança e aos pais. A maioria dos pacientes alcançará a cura, mas tanto para esses pacientes, quanto para aqueles onde o tratamento não conseguirá curar, há que se oferecer qualidade de vida”. Diante disso, Santiago pontua que o próximo grande passo está voltando em implementar uma unidade de internação específica para essas crianças e adolescentes em tratamento, onde a linguagem falada seja o cuidado ao paciente oncológico infantojuvenil em sua permanência hospitalar. “Isso resultará em mais e mais experiência às nossas equipes e na melhora dos índices de cura e excelência nos cuidados paliativos”.

Na luta pela construção deste espaço, mais uma vez, o Hospital São Vicente de Paulo, precisa contar com a força da comunidade regional e com o apoio de importantes setores do poder público e privado, onde, será reformada uma ala para internação, que oferecerá o isolamento fundamental aos pacientes em tratamento quimioterápico, o conforto necessário para as longas internações e o campo para o exercício das equipes super especializadas no assunto. “Tudo isso faz sentido quando concluímos que a travessia é necessária e não há outro ângulo de observação do problema a não ser oferecer o suporte a todos os que terão de passar pelos caminhos impostos por uma das últimas doenças que ainda tem poder de assolar a humanidade e que por esse imposto, terão que suspender um período importante de suas vidas chamado infância para, depois disso, voltarem a viver os seus sonhos”.


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