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E se joão se tornou Maria, o que isso muda para você?

Sim, mudei meu nome. Mas quero que entendam que essa mudança se deu através de um amadurecimento



Data da Publicação da Notícia : 06/02/2019 09:33 por Veronica Santos

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Sim, mudei meu nome. Mas quero que entendam que essa mudança se deu através de um amadurecimento interno e profundo que por muitos anos eu me permiti passar. A transexualidade por mim foi descoberta e assumida há menos de 2 anos, uma vez que até então eu não me considerava como tal. Sempre tive uma forma única e autêntica de ser, por isso, cresci ouvindo que se usasse determinadas roupas as quais não eram do meu gênero de nascimento jamais conseguiria emprego, entre outras coisas. Mas não me dobrei diante dessas pressões. Sofri, chorei muito, quis morrer, mas não abafei a minha essência nem nas piores situações. Consegui sim bons empregos, usando o meu nome de registro, claro, mas com a aparência já mais feminizada desde os 15 anos. Sempre mostrei que a minha identidade de gênero não definia e sequer afetaria em algo as minhas capacidades, o meu potencial quanto aluna, profissional e hoje acadêmica de Educação Física na Universidade de Passo Fundo e Bolsista de um programa do Governo Federal de iniciação à docência. Cito isso apenas porque são minhas conquistas, tenho orgulho delas. Podem não ser as maiores que terei na vida, mas são importantes e servem como degraus e alicerces para as que virão pela frente. Na faculdade também fui acolhida pelos colegas, especialmente pelas professoras Sybelle e Lorita, que se tornaram grandes amigas de fé que levarei para sempre em meu coração. Mas e se João se tornou Maria, o que isso muda para você? Eu tornei-me Veronica. VERONICA OLIVEIRA DOS SANTOS. Veronica, assim que comecei a ser chamada pela primeira vez no meu trabalho. Sou Supervisora de Operações, recém promovida, em uma rede de fast food. Ainda receosa de me apresentar com o novo nome escolhido, fui abraçada de uma maneira incrível pelos meus colegas de trabalho que hoje são uma família para mim. Depois de muitos currículos entregues, aqui em Lagoa Vermelha e em Passo Fundo, que é aonde moro atualmente, o Burger King foi a minha primeira oportunidade de me mostrar como ser humano de forma ainda mais transparente. Passar os dias ouvindo: “- Vero”; “- Veronica vem cá” me fez ter a certeza de que essa sou eu de fato, e que ninguém pode dizer o contrário ou desfazer tudo o que construí. Eu amo esse nome, alguns sabem que a escolha surgiu da série Riverdale, onde há uma personagem de cabelos pretos, autêntica, decidida, pés no chão e teimosa que eu não poderia deixar de me identificar. Sei que para a minha família está sendo um choque a mudança do nome. Mas eu não mudei, minha alma não mudou, meus princípios e valores permanecem intactos e imutáveis. Quero que entendam que eu estou começando a ser feliz de verdade, e se isso faz algum familiar triste, acho que as coisas estão erradas. A minha mãe, pai e irmãos são meu bem mais precioso, espero que eu continue sendo o amor de vocês também, assim como fui desde que nasci. Aos amigos de longa data, meu interior vocês já conhecem, creio que isso baste. Saibam, que esse relato não é só meu. Há várias Marias que viram “Joões” no Brasil e vice-versa. Essa experiência e essa luta não é só minha. Deixo claro que ainda estou em construção, não tentem me concluir. Enfim, estou feliz. E convicta de que o amor pode mudar e transformar, inclusive o amor-próprio!

 


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