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Por que as cooperativas encerram atividades?

De um lado, a compreensão de que o maior causador da interrupção de uma cooperativa é a restrição



Data da Publicação da Notícia : 13/11/2018 08:04 por Assessoria de imprensa - CESURG

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De um lado, a compreensão de que o maior causador da interrupção de uma cooperativa é a restrição financeira da organização. De outro, a conclusão que o motivo do encerramento é a falta de uma gestão competente. Estas diferentes visões nortearam o debate proposto no 1º Chimarrão Sociológico de Cooperativismo do CESURG, realizado pelo Centro de Ensino Superior Riograndense em Sarandi na noite desta terça (06), junto a estudantes do Tecnólogo em Gestão de Cooperativas e do MBA em Gestão de Cooperativas e Desenvolvimento Regional.

Segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras, no ano de 2015 existiam mais de 6,8 mil organizações cooperativas no Brasil, com um montante superior a 11,5 milhões de associados, empregando diretamente em torno de 400 mil pessoas. Somente no Rio Grande do Sul, conforme dados publicados pela Ocergs (Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul), só em 2017 as mais de 425 cooperativas gaúchas geraram 61,8 mil empregos com um salário médio 20% acima da remuneração dos colaboradores empregados no setor privado. O Estado gaúcho é, ainda, o segundo do Brasil com mais cooperados associados: são 2,8 milhões de pessoas, números que reiteram a força das organizações cooperativas para a economia gaúcha e brasileira. No entanto, muitas cooperativas entram em processo de liquidação, mesmo com um mercado que se mantém sólido em meio à crise econômica brasileira. A questão é por quê?

Essa foi a principal indagação abordada no 1º Chimarrão Sociológico de Cooperativismo. Na mesa de exposições, mediada pelo diretor de Ensino, o Me. Eduardo Toledo Martins, os professores do CESURG Dr. Cláudio Alberto dos Santos e Dr. Carlos Daniel Baioto protagonizaram o debate acadêmico, expondo visões dicotômicas sobre a descontinuidade de organizações cooperativas. Santos, doutor em Sociologia Política, defende que a principal causa da interrupção das cooperativas são problemas de ordem financeira. Já Baioto, doutor em Ciências Sociais, pondera que o motivo é a falta de gestão na organização.

O debate foi proposto pelos próprios acadêmicos, que identificaram no decorrer do curso essas diferentes perspectivas por parte dos professores. A partir dos apontamentos, os estudantes puderam munir-se de novos conhecimentos e leituras diferentes a respeito das causas que levam as cooperativas ao processo de liquidação.

Falta capital ou gestão?

De acordo com Baioto, o capital financeiro é o meio e não o fim. “Muitas cooperativas, inclusive, surgem sem capital. Elas podem falir por falta de capital, mas a causa real é uma gestão ineficaz. Defendemos que gestão gera capital, mas capital não gera gestão. Portanto, os problemas que ocasionam a liquidação são de gestão”. Na visão de Santos, se faz necessário considerar que o sistema macro no qual a sociedade contemporânea está inserida é o capitalismo. “Estamos em um sistema mundo que é capitalista. Não existe, no mundo capitalista, você começar algo sem dinheiro”.

Na avaliação de Baioto, não é somente o capital financeiro o norteador de uma cooperativa, havendo também o capital cultural, social, intelectual, entre outros presentes na economia moderna. “Temos várias organizações onde o capital financeiro é o que menos importa. Ele é parte integrante da economia, mas economia vai muito além de capital financeiro. Temos exemplos no Rio Grande do Sul onde maior capital social gerou mais capital financeiro. Na gestão pública, o problema nunca foi a falta de dinheiro. Foi a falta de gestão. Se eu não tenho gestão, não adianta aplicar dinheiro”, alega o professor.

Por outro lado, Santos argumenta que por trás de toda relação, há manifestação de capital financeiro. “Não há como fugirmos do sistema macro, pois ele influencia no micro. O cooperativismo tem de pensar no todo, no coletivo, tem de pensar em nós. Já o capitalismo pensa no indivíduo, no eu, e tudo no sistema é uma mercadoria, tudo tem um preço, e esse preço é dinheiro. E isso não há gestor que solucione”, reitera Santos.

Cooperativismo no capitalismo

Questionados pela acadêmica do Tecnólogo em Gestão de Cooperativas, Adriana Maragno Grando, sobre qual a importância do sistema cooperativista dentro de um mundo e um Brasil capitalistas, os doutores concordam que as cooperativas surgem como uma alternativa ao sistema e que elas precisam ser diferentes, fazendo destes diferenciais atrativos para a fidelização dos associados, tornando essas organizações alternativas interessantes aos olhos da sociedade.

A estudante do tecnólogo Larissa de Souza Zambiasi revelou a importância de debates acadêmicos como este. “Intrigados com essas diferentes visões entre os professores, surgiu essa ideia do Chimarrão Sociológico. O evento foi muito bom, pois além de termos a base teórica de sala de aula, pudemos ver exemplos práticos de cada professor para a partir daí tirarmos nossas próprias conclusões. Eu, por exemplo, compreendi que a gestão e o dinheiro são complementares para a continuidade das nossas cooperativas”, complementa a acadêmica.


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